Prendi meus dedos no elevador hoje. É sim. Fui segurar a porta para uma senhora e a porta fechou. E não abriu mais. Meus dedos ficaram na porta. Bateu um pânico. Estava doendo muito. Pedi ao meu filho que segurasse meus papéis. E fiquei olhando um tempo que pareceu infinito para aqueles dois botões de abrir a porta. Um < > e outro >< . Digo a vocês… Nestas horas a gente se pergunta… Que botão abre a porta?

Então você tenta qualquer um. E teus dedos esperam o tempo que leva para uma porta de elevador reconhecer o comando abrir, e ela não abre. É claro que se você tivesse 50% de chances de errar o botão muito provavelmente você também erraria, mas eu não! Eu olho para aqueles botões cada vez que entro em um elevador. Eu praticamente nunca entro em elevador simplesmente porque na minha cidade os prédios são baixos e eu gosto mesmo de usar as escadas como exercício. Mas toda vez que eu entro em um, eu olho cada um dos botões e tendo descobrir para que servem.

Eu sou destas pessoas que presta socorro na estrada, que oferece carona toda vez que reconhece ou não alguém que vai para o mesmo lado, e que repara em qualquer objeto que possa oferecer riscos de acidente ou contaminação.

Eu entro num lugar e imediatamente identifico para onde corre o ar. E identifico a placa que aponta a saída de emergência. Reparo onde estão cada um dos extintores, se há menores trabalhando no local, se o piso está escorregadio, se o estabelecimento emite nota.

Eu alcanço a faca pelo lado do cabo, apontando a ponta contra mim para ninguém se machucar. Eu sou destas pessoas que ensinam aos filhos tudo sobre direção defensiva e placas de trânsito, que reparem no quilômetro e sentido em que se encontram, e quantos quilômetros faz que passaram do último posto de gasolina e conveniências, e este tipo de coisas.

A porta decide não abrir e força teus dedos cada vez mais! Te digo, que nesta hora, você tem medo, de que eles fiquem esmagados e que o elevador desça. Então você roga com olhos molhados sem demonstrar medo: filho, por favor segura estes papéis pra mamãe? São importantes. E então você tenta o outro botão.

Qual é o outro botão? Qual já não sabe! Você tem tanta dor que já não se lembra que botão apertou da primeira vez. Então você olha direito os desenhos e chega à alguma conclusão sobre o botão que mais se parece com abrir. Não me perguntem agora qual é o botão!

Você dá uma sorte danada, porque as portas se abrem e a senhora que estava lá fora esperando finalmente pode entrar.

Roí todas minhas unhas no decorrer da tarde, isso é outra coisa. Eu não sou mais uma pessoa que parou de roer as unhas agora. Eu entendo a dificuldade de as pessoas pararem de fumar, e posso dizer com toda a franqueza e testemunhas que não sei como é, porque nunca fumei nada, mas é muito difícil mesmo de parar para sempre de roer as unhas!

Então eu começo a achar culpados. Sempre há culpados!

Eu culpo minha doce e querida ortodontista por não concordar comigo que os dentes devem ser ajustados de três em três semanas, e não de quatro em quatro e isso muda tudo sim senhor.

Eu culpo o engenheiro que projetou estes desenhos nos botões do elevador, porque sei lá onde ele estava na cabeça na hora de fazer um desenho tão complicado, porque de sorte fui eu que prendi os dedos, para dar vez à uma senhora, mas e se fosse o contrário? Os dedos dela teriam quebrado!

Há outros culpados. Sempre há culpados. A igreja nos ensinou que, para tudo, existe culpa.

A culpa é toda minha!!!! E agora estou com estes dedos e estes sentimentos.

Alguém devia fazer alguma coisa!

Alguém devia beijar minhas mãos amarguradas, e chupar os meus dedos um a um, protegendo-os de toda esta angústia por pelo menos três semanas – que é o tempo que vai demorar para eu ter um toco de unha novamente.

Alguém devia me dizer como eu sou linda, porque minha auto-estima sem minhas unhas vai ficar do tamanho que ficou, quando meu cabeleireiro tirou as forças do meu cabelo, trazendo-os para o ombro em novembro.

Alguém devia chupar meus dedos das mãos, e dos pés, suave e ardentemente, até eles se sentirem tão amados e masturbados, que gozem do prazer do acolhimento.

Eu devia visitar a minha manicure e pedir à ela que dê um jeito em um pedicure para mim, que preste este tipo de serviços à domicílio. Porque estou muito sensibilizada.

Eu culpo o mundo todo por ter treinado durante tanto tempo mulheres para serem manicures, e não ter treinado homens para cuidar bem dos pés das mulheres! Porque uma mulher não nasceu para cuidar dos pés de outra mulher. Toda mulher nasceu para ter seus pés cuidados e amados.

Alguém devia fazer alguma coisa, repito!

Meus dedos não tem culpa de todos os erros que o mundo comete. Meus dedos estão carentes de encontrar com outros dedos e entrelaçar neles numa cama por meia hora, enquanto meus braços são segurados duramente esticados para traz da minha cabeça por um homem forte que se proponha a me cobrir de beijo nestas horas.

Elevadores de pessoas e unhas e falta de afeto são os principais problemas que acometem os dedos hoje em dia. Este é um assunto que deveria ser muito bem tratado por um bom especialista numa segunda-feira à noite.

Era o que eu tinha a comentar.