Meio dia, meio noite, de Alegra Catarina.

Meio dia, meio noite, de Alegra Catarina.

Registrei, antes do recheio, o fim deste Romance muitas vezes, de muitas maneiras. Como mais uma vez faço agora. Mas o romance continuava acontecendo na minha cabeça. Insistia acontecer. Milhares de conexões precisavam ser anotadas. Ainda falta tudo por fazer. Ou por apagar. Os nós atados, alinhados ao tempo “Sempre”. Ele seguia, exigindo recursos e disponibilidades, independente das vontades fracas. Espremia as memórias, já remotas, como máquina de moer cana, pretendendo fazer de uma haste, suco. Até que algo aconteceu e mudou tudo. Abri o número redondo da página de um livro. Havia uma lembrança costurada lá. Talvez apenas eu pudesse vê-la. E bastaria a mim guardá-la. Mas eu não sou assim. Cada um é de um jeito. Melhorarei com a idade. Para cada ano de vida, ou período de seis meses aditado de dois se preciso, acendo uma vela, reservo um marco. É como gosto de me ver passar. Ainda que tudo saia errado, ou acabe dando certo, importa o saldo de aprendizado e a lembrança. Gosto de ter a certeza de que algo realmente interessante aconteceu num lapso. E desta certeza fiz uma nota. Era apenas um detalhe. Um capricho. Um código. Uma senha. O xis no mapa. O bom do mar: a onda que vai e vem. A memória. Ponto de GPS. Um lugar para onde ir por preferência. A primeira vez. Um encontro. Um número par. Um número ímpar. Redondos. Tomei nota, como cada um que anota no caderno de registros na lata da montanha: este ano, amei você, e desenha um coraçãozinho. Estive aqui com…, gratidão aos amigos. Tomei nota. E nem reparei…, ele escreveu. Era um fim perfeito. Que por fim, acabei não gostando. Brian Eno no meu play.