É sexta.
Chamo meu namorado.
(Por “meu namorado”, que, entenda-se, tenho interesse em ganhar dele um perfume no Dia dos Namorados. Apesar de sermos casados, em pé de nos separar, porque a fila anda, etc.)
Estamos, eu e meu namorado, lidando na cesta de basquete das crianças. Há semanas.
Quando chegou, a tabela trouxe consigo tantos defeitos, que eu resolvi devolver. A loja recolheu e levou para fábrica corrigir os problemas. Depois de um mês, devolveu, em iguais condições. Segundo o fabricante, o defeito é de fábrica e eu que sou muito exigente. Esta é a melhor tabela que fabricam e se não quiser ficar com ela a loja me reembolsa o valor investido.
A bola quica. Fico com a cesta. O namorado sugere algumas melhorias.
Antes de ser fixada é preciso substituir o alumínio que protege o compensado naval da chuva, cobrindo a parte superior num “L”, por uma peça em “U” – pensem no “U” de ponta cabeça, por favor -, o mesmo procedimento nas laterais.
Além disso, resta saber se a parede de tijolos suporta o peso. Segundo os vendedores, sim, desde que sejam usados parafusos de chumbo contra o concreto. Mas não há concreto no centro da parede de tijolos.
Chamo meu namorado.
Pisco um olho, ele estaciona, trazendo uma escada.
Serviço quase pronto, como está agora, ele confessa ter gastado algumas horas de sono tentando encontrar a solução. Forjou as voltas necessárias na barra de ferro, implantou caibros de construção no verso da tabela, e ganchos.
Precisamos erguer a tábua para saber se tudo vai funcionar.
Ele acha que vai ficar muito alto. Eu chuto que vai ficar baixo. Suspendemos a cesta com cordas e chamamos as crianças para testar. O Lucca não está em casa, mas os pias do vizinho, o Flavio e a Sofia estão. Eles lançam a bola e… Cesta!
Ainda precisamos alinhar esteticamente os cabos que sustentam a tábua, encontrar o esquadro perfeito, fazer seis furos na parede e parafusar – ou “parafusear”, no Modo Engraçado – para a tabela não dançar, dependurada.
As crianças ganham lances livres para testar o som da bola contra a tábua, e blóu. O barulho é incrível! Parece mesmo que estamos numa quadra de basquete.
Perfeito.
– Ficou muito baixo.
O mais velho chegou. Eu fazia ovos mexidos com cebola, que já estávamos azuis… Depois, eu e meu namorado ficamos namorando na namoradeira, enquanto os menores brincavam de bola. Estamos todos muito cansados, mas ainda não nos rendemos. Até que o primogênito apareceu na janela do próprio quarto, e sentenciou:
– São nove e meia. Chega deste negócio de bola. Vão dormir!
E o mundo dormiu feliz.
Sábado teremos que subir a altura da tábua, pra dificultar um pouco as coisas. Depois de amanhã, lá pelas três da tarde, a gente toma um banho e então descansa. Se quisermos silêncio, precisamos pensar em um bom esconderijo para bola. Ou sair, comprar sorvete.