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Couro de vidro, de Alegra Catarina

* ‘Shark ataque’, no futevôlei,  lance inventado por Léo Tubarão, é comparado ao gol do futebol e à cortada do vôlei.

Suponha quatro moças batendo bola em praia do Rio (Grande do Sul). Auri está na dupla perdedora, pra variar, a bola escapa – mas tinha que ser! Adversárias tolas caem no riso, como quem está um nível acima, do rés da areia. “É impressionante a falta de habilidade. O Penz tem razão!”, elas pensam que pensam…

Auri dá aquele risinho, que só ela. Ajeita a postura, espana os grãos que grudaram no pescoço, firma o cabelo, dando volta no rabicó. Esfrega as canelas – aí é opção se os peitos ou a bunda estão virados para o quiosque, na hora ela vê.

Respira fundo, faz cara de séria, troca pela de menos séria, ah, vai esta mesma! Isso tá certo, mesmo? Mira a esfera descansando nos pés da vítima. Admita-se que foram muitas as tentativas, mas por estes pés, já repararam? Valem o sacrifício.

Diz inaudível um “desculpa aí” e sem sair do olho no olho segue até lá. É melhor ir buscar a bola, que se depender de esperar… A tarde cai madura no horizonte, a noite é criança por vir, tem outros ‘garotos’ batendo um bolão, mas este!, Auri suspira, ah, este ri para ela (ou dela, não importa) e teria prazer, como fica evidente, em ensinar passes perfeitos. A barriguinha verde aprendia fazer chimarrão por este homem!, não bastassem os exageros… O mar continua lá atrás, eu acho. O mundo, é a sensação, parou de girar. Segura no pause, faz o de conta pra mim?

As meninas deram um “partiu”, foram num fininho. A lua nada nua. Ele continua ali olhando e na direção:

– Garçom?! Congela e embala esta cena pra eu levar, fazendo favor. Mantém a quatorze graus, solta o ventinho pelas dezoito…

Auri foi embora pra sempre e ele não sabe se quer voltar a vê-la, nem o que faria se a visse na sua frente. Ela estraga tudo.

A noiva chega. Pede cerveja, “outra pra ele, e copo limpo que esta chocou”. “Que foi, bem?” “Oi! A crônica em quem pensei: A vida real é uma bola, mas tenho que pensar noutro título.”

Sei que devem estar questionando exatamente isso:

– E a bola, Auri?!, cadê a bola?! Então…

Tirando o leonino, que estava acompanhado, e o geminiano gracinha, este foi super gentil em passar uma água na bola enquanto eu me aprontava pra zarpar, não sei dizer o quê, ao certo, mas algum defeito os outros devem ter. O que perguntaram, mesmo? Estão me desconcentrando, sabiam?