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Azedinha, de Alegra Catarina.

“Se eu roubei, se eu roubei teu coração…”

Assistente de Promotor Público ausente, defensora, pela absolvição da moça inocente, arguindo que: desarmada, antes de roubar o coração e o tempo do proprietário do veículo vermelho, confiante, parado no sinal, ele primeiro roubou a atenção dela!

Declarou ser bom moço, pediu que confiasse. “E tudo se resolve” – palavras dele, que desceu do carro e entregou fortuito o órgão. Ela não teve escolha, a de recusar tamanha oferta, carente que estava no momento em que tudo aconteceu. Pensou posterior em restituir-lhe, boa ladra que era, mas sem o dela no peito, arrancado e escondido nele, com que batida haveria de viver desde então?

Ele ainda a acolheu, arrastando-a sobre o peito aberto, desejando fazê-la dormir no prazer da companhia silenciosa. Ela rendeu-se ao conforto. Absolveram-se mutuamente até tudo sangrar e o branco virar luz.

O Amor À Primeira Vista, julgado à revelia, foi proibido acontecer por dez anos! Prantos tantos rolaram sobre a cena (e veredicto público) que uma nascente brotou no local do encontro. Novo rio foi fundado, revelando galerias sob antigos prédios. E em sonho de sono profundo, o Romance, com o nome dela, revelou-se.

Acordaram semana depois, um ao lado do outro em leitos. Os corações suturados – trocados! – serviram com perfeição. O dele pulsava chiado, de aquecer o sangue de doações. O dela batia sereno. Funcionavam melhor perto. Ninguém mais, a não ser os dois, e raros amigos fieis, ficou sabendo do engano.

Cronistas seletos registraram a lenda. E boêmios escritores nascidos ali, repetiram de ouvido a ouvido, o segredo, por três gerações. Até que em cinco de novo março, pouco antes do outono chegar, o carro vermelho parou. Defronte à escola renovada, atendendo bandeira de paz, chamando pouca atenção. Era Mahler ressuscitado! Todo cuidado seria pouco, mas o mundo mau percebeu. O homem humilde ali chegado, envolveu a sua senhora no abraço, surtando a ela gentil poesia.

Trazia a presente o pedido, pelo fim antecipado da pena. Oraram juntos. Restituíram-se, de bom grado, os danos e as conquistas cumuladas. Rendição mútua foi proclamada e o céu, o dos justos, se abriu. Anjos desceram à terra com a missão de consertar os estragos. O mundo nunca mais foi o mesmo. Tampouco evoluiu.

Evoluiria, adiante, por grande e nobre o Amor.