Aquelas histórias das quais guardamos, arquivamos, revisamos sistematicamente os detalhes, tendem a nos parecer mais reais.  No fundo, são as mais fantasiosas.

Mas se isso serve ao bom propósito, procura dar mais, mais, e tantos mais detalhes às histórias mais maravilhosas, de modo que façam às histórias ruins se envergonharem – de parecer borrão na janela, que escapou ao pássaro.

Pois é, acontece.

O PÁSSARO DE FRALDAS

Era uma vez um pássaro que usava fraldas descartáveis. Levava consigo às costas, a pequena mochila branca. Peludinha, fora um presente. Nela, fraldas sobressalentes, lenços umedecidos, espelho, lixas de unha.

Era de chorar ouvir os argumentos do pássaro para própria façanha. Contava como, quando, onde, porque tudo aquilo que aconteceu.

O pássaro, vocês não sabem, certa vez conheceu um gato. Assim, bem de pertinho, cá entre nós, amizade mesmo.

Ele, o gato, ensinou ao pássaro ser mais asseado. Lixar as unhas. Passar gel anti frizz nas penugens pra não arrepiarem tanto.

O pássaro de fraldas vinha perdendo território. Os outros pássaros alertaram. Ficava cinco quilômetros para trás a cada dez quilômetros de céu voado.

Continuasse assim, nem a mãe natureza poderia garantir chegada ao destino em tempo: de botar os ovos e chocá-los, antes da primavera.

– Pense nos filhotes, na preservação da espécie, seja responsável, pássaro tolo. Os outros cantavam.

Alguns calados, seguiam o voo sem pensar.

– Pássaros imundos! O pássaro de fraldas retrucava.

Dezenas de sementes deixariam de ser lançadas do alto para se firmar. Diziam em retorno.

O pássaro, ainda nas fraldas, teimou.

Veio o gato. Não sei se o mesmo, não sei se outro mais que este cheiroso, malhado, bigode aparado. Comeu o pássaro.

Da menor das partes, é tudo o que sei. Não posso advogar a favor desta, e nem contra a outra.

Dos outros pássaros sei que quando chove tomam até banho. Só não escovam os dentes. Seria exagero.