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Cor de rosa: choque!, de Alegra Catarina

Fossa, para os meninos do Solar, era um vago e ocasional tédio, meio sem explicação…

Hoje aconteceu muita coisa. Tive dor de cabeça, o que é raro, muito raro. E vomitei o queijo que comi ontem, voltando a ficar bem. Hoje juntei seis crianças na grama (descontando meu filho mais velho) e rolou um jogo de bola umas duas horas seguidas. Hoje meu vizinho-pai, duas casas para lá, reclamou do barulho. Moro num lugar onde a média de idade na redondeza está perto dos sessenta anos, onde há uma, no máximo duas, no meu caso extremo, três crianças, para cada casa onde moram dois casais, um da terceira idade. O silêncio é sempre bem vindo na rotina deles. O barulho sempre bem vindo na quebra da minha. Hoje aconteceu de eu limpar o depósito, de meu filho bater a cabeça contra um palanque. Hoje levei meu filho num churrasco, e recusei o convite para fazer rapel na chachoeira porque estava com dor de cabeça. Hoje rolou o amigo secreto entre as mesmas seis meninas do ano passado e uma das minhas amigas está “fora do ar” a vinte e quatro horas o que indica que está… “ocupada de verdade”.

Hoje por acaso assisti o primeiro bloco do Zorra Total e isso é realmente extraordinário. Vi a propaganda da GloboPlay e entendi que aquela brincadeira de “descer para o play” não era comigo. Também entendi a história do “espelho”, e que não era comigo. Descobri que as pessoas andam mesmo assistindo muita televisão,  já que a literatura está esbanjando temas de televisão ultimamente. Talvez eu deva começar a escolher melhor minhas leituras. Hoje comprei um livro ótimo por quinze reais. Juro. Estava num engradado de promoção.  Solar da fossa, de Toninho Vaz (Casa da Palavra, 2011). Uma história boa de se ler. Hoje encontrei um amigo de quem gosto tanto que podia dar um beijo na boca dele no meio do corredor do supermercado, e só rolou o abraço – porque gosto de outro de um jeito bem mais que isso há tempo demais pra estragar. Hoje tive a certeza pela enésima vez que amizade sincera se mede pela ausência de cerimônia e protocolo. A gente vê a pessoa, levanta e vai até lá, o resto pode esperar… E se tivermos que esperar, tudo bem, a gente entende. Também caçoa, zoa, é caçoado, e zoado. “Tá bonito! Dá uma voltinha…” Amigo perdoa até quando lê o que não quer ouvir.

Hoje foi um dia destes em que o sol apareceu, e a noite estava fresquinha para uma caminhada, e tudo correu tão bem que podia durar a madrugada toda e mais alguns dias. Quando o pai do Mateus veio chamá-lo para casa, noite escura já, o Mateus disse: Ah pai, queremos jogar a noite toda! E pensar que abri uma gaveta qualquer para guardar uns cadernos. Vi aquela bolinha amarela, joguei pra eles e disse: Ó, vão brincar de matar. E eles foram, e brincaram de “ameba”, que é quase a mesma coisa, mas não sei as regras. A criança que for acertada com a bolinha fica imobilizada, dependendo que outra a salve. Daí dá ‘timinho’. Hoje as crianças ficaram tão cansadas que nem deram conta. Então o pai do Mateus chamou, e ele tentou negociar. Pedi que parassem um pouco, me dessem a bola, e quando minha menina foi dizer algo, declarei: Se dois pais disseram que o jogo acabou, o jogo acabou. Já estão cansados, vão pro chuveiro, jantar e amanhã vocês brincam de novo – obedeceram de pronto.

Hoje, de igual mesmo, só aquilo que não posso contar porque a discrição, hoje em dia, é um luxo!

O sol voltou pra casa hoje, de passagem.