É aquele pouco que falta. O que exige mais coragem. Que uma vez rompido não volta ao estado original. Pensei sobre isso depois do sonho onde a tua voz me visitava, combinando com a minha palavras que anunciariam em recado conciso: a nossa despedida. Devia tê-lo beijado em sonho. Ajudado a preparar o terreno, todas estas coisas. Mas pensava no hímen, nesta figura tênue que enfrentamos cada e todos os dias desde a primeira vez (até a última, se vier). Queria, em realidade, ter conversado contigo sobre. Que este pedacinho de pele: explica tudo.

O medo é um nada insignificante diante do hímen. Estamos a beira, sem coragem para o salto e sem força de recuo. E não é o medo, da altura, do vazio de um intervalo, que atrapalha. Lançar-se e estar no salto é bobagem. Estar no fundo da água mero intervalo sem ar. O hímen, o primeiro toque, impactante em nós, é que apavora.

Temos de seguir adiante, já decidimos, ensaiamos, o povo compareceu. Falta entrar na luz. E o hímen nos retém. Mesmo que, diante do sexo, implora. Gasta a fração de um segundo de cada minuto da vida inteira. Para começar o trabalho. Concluir o trabalho. Dar cabo da velha história. Abandonar a muleta. Fazer o pedido. Dizer sim ou não. Passar de fase. Usar camisinha ou abandonar. Fazer o teste de compatibilidade. Química e geográfica. Sempre um hímen na parada.

Resolver ir e correr o risco de encontrar e correr o risco de gostar e correr o risco de querer repetir e correr o risco de ser bom demais e correr o risco de ficar difícil conter e correr e correr para lá e para cá feito um adolescente sem saber para onde correr e alguém ridicularizar e continuar correndo o risco de ainda assim gostar e querer mais sempre mais. Resolver. Pausar. Eternizar. O hímen pede: rompa!