Pés trinta e seis, de Alegra Catarina.

Cambitas, de Alegra Catarina.

Amanhã é sexta-feira-dia-de-jogo. Pode chutar minhas canelas desta vez, se conseguir alcançar. E tenho outras cinquenta e tantas ideias que talvez também queira anotar para usar contra mim, semana após semana, por um ano inteiro. Quer? Sábado, por exemplo, pode derramar óleo quente sobre toda minha pele. Cuide para esparramar bem, massageando, eu direi, para um resultado mais uniforme.

Em seguida, quem sabe queira me levar aos corvos. Restos ainda vivos do coração pulsante, jogar no aterro sanitário. Ou prefira me intubar, para me ver sofrer mais. Escolho a segunda opção que sei ficaria perto, inalando meu cheiro bronzeado, respirando o sabor do meu ar doce. Reparando na arcada dentária perfeita, ao lado de fios de cabelos castanhos, cuidadosamente desarranjados.

Por que não tenta o crematório? Minhas cinzas, misturadas com a gota de uma lágrima tua (de arrependimento claro), e teria tinta para  renovar a cor dos muros de concreto. Quem sabe não pinta o desenho do meu olhar ampliado bem defronte a janela do teu estar particular. Assim poderei vê-lo todo dia cedo.

Lembre de sorrir cada vez. Notará minha bochecha rosar. Fico feliz quando você está.

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