Recorte da coleção 'p&b' - de Alegra Catarina

Recorte da coleção ‘p&b’ – de Alegra Catarina

Banho cedo. Compromisso. Tempo cronometrado.

A noite anterior foi ótima. Tão boa que até estiquei mais cinco, de cinco em cinco minutos, uma hora inteira.

Fazer de um travesseiro homem, e abraçar. Pensar nele e ter satisfação enorme. Gastar tempo na brincadeira. Como se presente estivesse. São meus luxos.

Olho os bicos dos seios separando a água. Imagem linda. Tenho de me apressar. Repito sabonete no corpo todo e enquanto hidrato, estico o prazer um minuto, de minuto em minuto, cinco inteiros, que me concedo, a sentir meu cheiro que sentirias, estivesse aqui.

Não está.

Devíamos já ter desistido desta brincadeira faz tempo. É verdade. Mas estou gostando.

O primeiro que desgostar tome a frente. Faça as honras. Eu, gosto de tê-lo em pensamento para imaginar todas as maldades que lhe faria, pudesse, com permissão.

Ficasse de fora do vidro, me vendo acariciar é uma – das que prefiro. Obrigando segurar a toalha, para quando eu sair, me embrulhar.

Pedir que escolha uma calcinha pra mim, na gaveta, que acabei esquecendo. É outra das que me ocorre.

Fazer esperar que eu pinte as unhas, deixando a escolhida à mostra. Outra.

Convidar a entrar, saciar a sede, mamando em mim, ainda penso, antes de fechar a água.

Gosto de sair à rua assim. Me sentindo amada. E espero que saia deste jeito. Ou fique hoje por mim, cuidando de revisar tudo, e do almoço – a imaginar se gostaria de comer assim, ou assado. Que beijos de sabores me daria, experimentando o molho? Capricha. Tem prazer numa simples salada. Em esticar a toalha, por os talheres, escolher os pratos. Hoje tem visitas à mais, prazer em dobro. Não sabem a quem direciona o mimo em pensamentos. Percebem tua cara boa, despreocupado, se muito.

Que os pensamentos estejam ligados, noite e dia, é alegria. Ou esconda por favor este risinho de canto de boca, for em contrário. Disfarce. Deixe de apreciar a bebida e a água, se conseguir.

Concentre-se em mim!

Tome banho e não se toque, querendo tentar. Ainda que te lembre dos prazeres que provoca, enquanto morde minha cintura. Ou tocando demorado os meus seios, sem revelar, como gosto.

Durma, e durma bem, estando em pazes comigo. Ou repita a birra, com nome completo e sobrenome. Seja traído em pensamento se em sonho eu te acordar, deitando sobre você lambuzada.

Ah, namorado. Eu te namoro sem que saiba, sim! E sei que me namora, enquanto nem sei. Sempre, só por hoje. Mais hoje e chega! Este tanto ainda e acabou. Um minuto, na refeição. E depois a gente para. E recomeça, quando der, de onde parou. Até domingo. Que basta. Um domingo destes, de julho, se concordar. Agora que junho está no final, deixa ao menos este que quase foi.

Homens de fé no trabalho. E no talento acomodado, aram a terra estas horas, enquanto a água amolece. Distraídos, deixam gotas abrirem crateras, desbarrancar. Trazendo em cacos a crosta toda, a partir de uma fresta, sem desvio, sem querer, deixada.

Eu celebro. Insisto. E abro a concha, segundo mais, espiando. Te esfumaço rápido no banho e evaporas condensando no frio da porta aberta!

Seco e visto sozinha, pois bem. Ligo o carro. Fecho. E na volta, por um intervalo, te abro, convidando a rápida ducha.

Talvez desse a sorte de te ver nu, entrando sem bater. E pudéssemos deixar de lado o não me chegue, não me toque, vá devagar. Ou o contrário. Ou o contrário. Ou o contrário. Intercalado. Revezamento. Trabalho de equipe. Descanso de equipe. Trabalho individual. Ah meu bem, como não aproveitamos um ao outro tudo que gostaria, me condeno…

Tendo você e eu presentes, ou não. O jeito que se faz, ou imagina. Dois na cena vestidos, in natura, in memoriam, in pensamento, in cobertor, in box, tanto faz…

Continuo gostando de ver, e estar.