Recorte da coleção ‘p&b’ – de Alegra Catarina
Não suporto minhas limitações!
Ser do tipo pequenez, que não alcança um copo.
Com tempo mignon pra criar, sem hora justa de ouvir, ver, ler, rodar, e infinitivos, todos os verbos.
Implodir e nascer nova, de estímulos brutos.
Teatro, teatro, teatro. Não ver teatro!
Não suporto minhas limitações!
Tempo burro, que não entende, que te quero e preciso agora.
Não suporto, relógio; relógio funcionando; despertador; celular no banheiro; obra parada.
E mulher bonita, sem cérebro.
Não suporto pele bronzeada e seios de revista.
Pé nus bem cuidados, não suporto!
E arcada pronta de adolescência, contra meus arames.
Cabelo longo, bem cuidados, no vento.
Não suporto.
Não suporto minhas limitações.
Não ter carteira pra moto.
Não correr cinco quilômetros em trinta minutos.
Ter contas por não pagar.
E saber que outro conheceu primeiro, lugar que eu iria antes.
Não suporto.
Não ter furadeira, buchas, parafusos, molduras, pregos, no tamanho certo, bem à mão.
Ter preguiça de cozinhar, mesmo sabendo.
Não suporto isso!
Não suporto eu sem você, quando te quero, na minha cama.
Não suporto os quilômetros que nos separam.
E a falta de você, caindo inteiro, na minha boca.
Ter limitações facilmente contornáveis e tê-las,
por você, suporto.
Alegra Catarina 