Ao escritor, como sabem, não importa a ele, pessoalmente, saber como é que você se sente sobre a dor de barriga ou cotovelo, que leva consigo, cativa. Ao escritor, importa a ele levar ao leitor uma imagem, plástica, possível ou impossível, boa ou má, real ou inventada, verdadeira ou verossímil, para que você, diante da imagem, descubra: como é que você se sente.
Pensando nisso, dor aqui, outra ali, me ocorreu que deve ter muita outra gente, além de mim, com a mesma dor de barriga ou de cotovelo hoje. Genérico de chá de cadeira é bom pra tudo, dizem… Até pra ego, inflado ou ferido.
Se você também é escritor, ator, leitor, e-leitor, eleitor, e acordou com sintomas: cartas para a redação. Vai que é epidemia, viral ou mania, destas que a gente pega na internet, já sai replicando: a de ler não pensar; ver e nem considerar; escrever no celular, caindo de sono, e nem editar.
Lembrei agora do velho ditado, “escreveu não leu, pau comeu”, que vivo esquecendo de onde veio, se era a mãe ou o pai, que sempre dizia…
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Vou tentar! É só o que prometo. E se não conseguir, juro que tento de novo, mas lá adiante. Vou tentar dar a vocês: uma imagem futurista. E vou criá-la, reciclando. Partirei da imagem de uma sufragista, tirada do filme “As sufragistas”, que assisti semana passada.
Tem filme que presta cada serviço, nem imagina. Não é querer reclamar… Mas tive que ver legendado. O dvd era velho e o som da voz dos personagens já não estava “funcionando”. A trilha sonora estava, por incrível que pareça. Desisti de tentar entender como pode isso.
Era o início do século passado. Uma mulher, nenhum homem em defesa dela, sobe no banco, e brada!, em defesa dos oprimidos. Outra mulher, um homem em defesa dela, é trancada no armário, para o próprio bem. Uma mulher, um homem contra ela, se joga em frente a cavalos disparados, numa corrida, diante de um rei. (Evito adiantar o FIM da história.)
Mas isso são imagens velhas e ultrapassadas, não futuristas!, Auristela, alguém irá argumentar. Além disso, que exagero de digressão, hein… Pois bem. Se é a imagem futurista, a que desejam, ei-la, na forma de manchete de capa de um jornal de 2050:
Partidos que nas próximas eleições não cumprirem exigência de 50% de mulheres candidatas a vereador terão chapas impugnadas.”
Hoje, a cota mínima é de 30%. E então, me vem em mente, novamente, as dolores. E como isso atrapalha, ah, minha gente.