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Um passo adiante, de Alegra Catarina.

ELE _ COMEÇA
– Família bonita
– A tua também. Obrigada.
– Só tem duas pessoas na minha. 
– Só tem quatro na minha.
– Quem estava faltando hoje?
– Eu acho pouco porque venho de uma família de seis. [Risos.] O mais velho.
– Legal te ver. Você está bem?
– Muito bem. ⁠⁠⁠⁠Três dias seguidos te vi. É bom te ver, também. Você está bem?
– [Risos]. Juro que não estou seguindo você. ⁠⁠⁠⁠Estou bem sim, vidinha besta e boa de sempre.
– Claro que não está me seguindo. Eu estou. Se chego depois. E tua presença ainda me intimida. Não sei porque.
– [Risos.] Você é boa nisso então. A intimidação é recíproca, fico sem jeito.
⁠⁠⁠⁠- Estamos trabalhando nisso. Com o tempo melhora. Já trocamos um beijinho. É um progresso. Sei tua barba em mim. ⁠⁠⁠Cuide-se bem. Até qualquer hora.
– É, o beijinho foi um progresso. Cuide-se também. Bom trabalho.
– Desculpe se encurto a conversa. O celular está pendurado por um fio curto, distante da mesa, carregando. Beijos. ⁠⁠⁠Bom trabalho.
ELA  _ RETOMA
⁠⁠⁠⁠- ⁠⁠⁠Tive um estímulo agora para finalmente concluir a instalação do WhatsUpp no computador. E não é que funciona. Grata.
– Desculpada, e… Não sou muito bom em longas conversas. Mesmo? Não sabia que existia a possibilidade do WhatsApp no computador.
– Acho que só precisa entrar no endereço web.whatsapp.com. Vai aparecer um código na tela. Coloca o telefone em frente, para ler o código. Depois, um ícone de atalho na barra de ferramentas, vai aparecer um número quando tiver mensagens, igualzinho no celular. Acho que é assim. Meu filho tinha instalado, mas eu não tinha lido o código.
– Gostei do “só” no início da receita de bolo.
– Agora eu sei porque me sinto intimidada na tua presença.
– Porque? Conte-me…
– Porque você é destas pessoas que corrigem quando a gente escreve “à cinco minutos atrás”. (Ainda que eu tenha entendido que a receita lhe pareceu longa para uma frase iniciada em “só”.). Não estou me queixando, só justificando a sensação. Eu gosto de estar exposta. E você me faz rir. É ótimo.
– [Risos.] Eu só aponto essas coisinhas quando sei que a pessoa levará numa boa, sou um chato seletivo. 
– Agradecida.
– Disponha.
ELE  _ VOLTA
– ⁠⁠⁠Não pense que não vi seu status. Boa noite, e bons sonhos.
ELA  _ VÊ A MENSAGEM DELE, HOJE.
 – Bom dia. Se eu pensasse que não iria vê-lo, o meu status, eu não o teria alterado.
(Status: Sou de longas conversas, e de longos silêncios. Ao gosto.)
⁠⁠⁠⁠- Bom dia. [Risos.] Dormiu bem?
– Menos horas que gostaria. Mas maravilhosamente bem. Sonhei sonhos lindos. E você?
– Também, bem menos que gostaria, hoje acordei cedo para levar o filho na escola.
– Não sei se devo enviar mais uma frase. Já foram sete, com esta oito.
– [Risos.]
Mas eu podia ao menos zoar, dizer que “porque”, na pergunta, é separado. 
– Poderia sim.
– Um beijo, lindinho. Preciso ir… Estou aqui a decidir se neste fim de semana pinto os muros, subo o Camapuã ou tenho uma aula de tiro ao alvo. O povo tá na linha esperando. (Dê conselhos.)
– Tá bem, uma quarta opção seria dividir cobertores comigo. Beijo. Tá frio.
– É um mal conselho. Garanto. ⁠⁠⁠Estou namorando um menino.
– Ah, entendi… SorryAulas de tiro, então.
– Gostaria de, eventualmente, não estar. Poder dividir cobertores contigo. Ver se são peludinhos. Quem sabe no próximo inverno.
– Quem sabe. 
ELA  _ VOLTA (DEPOIS DE UM MINUTO DE INTERVALO).
– Desculpe. Eu não tinha como falar antes. Acho que fui leviana em não falar. Acontece que não estou segura de que quero namorar. Ainda que ele seja adorável. Como você, é encantador… Eu me comovo quando me vejo sozinha com meus filhos, e você sozinho com o teu menino. Queria poder convidá-los a vir na minha casa brincar, jogar basquete, talvez. Tem uma cesta enorme num paredão enorme, é bem legal… Sinto muito.
– Tudo bem, de verdade… Estamos sempre ensaiando. Obrigado pelas letrinhas bonitas e pelo carinho.
– Que bom que sentiu o carinho.
– Senti sim, achei que estivemos mais próximos desta vez, foi mais simples e carinhoso.
– Estou ouvindo esta música à alguns dias: “Amor brando”, Karina Buhr.
– Gostosa. “… se aproxime de mim, mas não tanto”.
– “…a ponto de eu sentir tua falta quando você for embora”.
– É, tem esse verso aí também. 
– Vamos fazer uma pausa no progresso. E espero te ver, com boa frequência. Porque você é bonito. E eu gosto de te encontrar. Cuide-se bem, até lá.
– Sim, uma pausa em nosso quase-ato. Cuide-se também, um beijo (sob os cobertores peludinhos).
 ELA _ FINALMENTE, PROCURA O NAMORADO!
– Oi. Bom dia. Decidi ficar por aqui. Sábado de manhã ir na Millium comprar um ferro de passar roupas, novo, uma lâmpada para o quarto, que queimou, verniz. Pintar o banco externo. À tarde, ter uma “aula de tiro”. Te namorar um pouco depois. Podemos fazer macarrão à bolonhesa. Tem tudo. Salada de escarola. Domingo, vou lavar os muros, e pintar de concreto, tiver sol. Adiantar a folha de pagamento, no escritório. ‘Cabou’ tempo. Ler. Dormir. Só pra você saber.
(Então ela registra. Para lembrar, de quando ainda era jovem o bastante, e flertava.)
***
QUASE-ATO I: FUGAS CRÔNICAS. Em janeiro/2015.