Ah, estes novatos. Evidente que temos em mãos um romance brasileiro, perfeitamente possível de ser filmado no quintal de casa. Imaginem cenas como: a mocinha perdida do mocinho porque chegou de carro no aeroporto errado, música anos oitenta na rádio. Aviões de alta tecnologia fazem-na baixar o som, movimentando o ar com o som de decolagem que mais se parece com assovio de flauta. A nave cor de prata voa linha acima daquela delimitada para as relíquias teco-teco brancas com listras coloridas, adquiridas pelos funcionários da antiga cia aérea no leilão do Ministério do Trabalho. Preciosidades são restauradas e voar nelas deve ser como viajar de trem. Há oitenta destes aviões parados numa pista, abertos para visitas, e cinco em operação. É o que descobre ao pedir informações para um rapazinho usando piercing e destoando totalmente da paisagem provinciana. Ela lhe dá carona em troca de informações. Oferece água e ruffles. Ele aceita. Ela acha tudo muito engraçado. Ele sorri, tentando acreditar nos absurdos que ela inventa. Ela explica que procurou na internet o aeroporto naquela área, digitou o endereço no GPS e acabou caindo ali. Despede-se a seguir. Como era mesmo o nome dele? Liga para avisar que vai se atrasar. Foi bom ter comido um pouco de feijão, arroz, alface, tomate e batata. Dispensou o bife, ainda que estivesse incluído no preço do prato feito. Repara nas várias chamadas perdidas. Descobre um acesso rápido, mas a barreira caiu. Alguém repara num homem em pé há mais de hora. O telefone dele toca. É ela. Vai se atrasar. Mas não tanto que possam perder o voo. Histórias paralelas acontecem. Moscas voam sob o catchup das mesas da lanchonete enquanto uma moça muito gorda protege os ouvidos com um fone acoplado a um aparelho celular de última geração. Guardanapos voam ao lado da pista a cada quatro horas nos finais de semana, enquanto o mato cresce ao redor. Como naquela ciranda, da linda rosa juvenil.
TRECHO DE HISTÓRIA PERDIDO NO MAPA
21 quarta-feira jan 2015
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